bem vindo ao espaço sideral! aqui não existe tempo. aqui não existe espaço. encontramo-nos no vazio

terça-feira, 28 de dezembro de 2010


Por vezes sentimo-nos tão mais pequenos 
que somos esmagados por formigas,
construímos edifícios desproporcionados 
à nossa dimensão e vivemos neles
como num espaço indefinido,
solitários entre a sala e o quarto, a mobília 
e objectos infinitos.

Por vezes somos tão minúsculos, 
que nos esquecemos que somos mais que isso


helena isabel

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Inocentes desvios

Sabe a orvalho acordar nos teus braços
com o corpo inteiro confundido em ti

O teu corpo diz-me: Amo-te desde sempre
e para todo o sempre

Eu penso nos inocentes desvios
e na leveza das manhãs claras

Por isso, começo a escrever o Domingo
com um beijo silencioso nas tuas mãos

Que têm dedos quase do tamanho
dos meus


helena isabel
Enquanto for a tua sombra a caminhar a meu lado,
eu serei sombra e todos os meus passos 
deixarão sementes na terra

A seu tempo, crescerão rosas brancas no caminho 
e nascentes de água fresca e clara (dos 
teus pés, raízes profundas e silenciosas)

Chegará a manhã em que sairás da sombra
e verás rosas onde há pouco era deserto e frio

Eu depositarei um beijo sereno nos teus lábios
e viajarei até ao sol, levando o teu sorriso feliz
pelo regresso ao amor


helena isabel

Velvet Underground - I'll Be Your Mirror

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Chamo pelo teu nome
para lá do teu nome
Um dia disseste que 
gostavas de tirar os panos
da minha boca
Um dia disseste
que eu era o mundo
que querias habitar
e que atravessavas
todos os sinais vermelhos
para vires ao meu encontro
Não precisas vir
fica onde tu quiseres 
dentro da casa
Eu atravesso as paredes
e fico apenas a contemplar


helena isabel
Pensei-te a acordares de um sono profundo e a transgredires todas as regras: as tuas e as dos outros.


helena isabel

This Mortal Coil - Song to the Siren "Cocteau Twins"

Dá-me a tua linha
dá-ma, parando o tempo
e demorando-te
(na minha linha)

Dá-me o teu arrepio
dá-me, de fora para dentro
parando o tempo
e demorando-te
(no meu arrepio)

Na tua linha
no teu (nosso arrepio)
nasço e morro
vezes sem conta

Até sermos uma só carne
e um só grito


helena isabel

Chico Buarque - O Meu Amor

Querida

Chamas-me "querida"
não páras de me chamar "querida"
De vez em quando, também chamas pelo meu nome
Sei que fechas os olhos para não te cansares
de dizer o meu nome
ou dizer "querida"

(Sabemos, por antecipação
que não são necessárias apresentações)


helena isabel




Entre o céu e a terra

foto de joão duque

Entre a terra, onde jazem pedras livres 
e o céu,em silêncio absoluto
reside a combinação perfeita
entre os dois mundos.

É aí que não somos Homens nem deuses
É aí que aguardamos todas as decisões.

Será a terra que toca o céu com as suas cruzes imponentes?
Será o céu que toca a terra com as nuvens a navegar sem destino?

Num único lugar
as nuvens abrem um portal de luz
e eu deixo a terra e as raízes
para regressar a casa


helena isabel

Com o consentimento do Universo

quando a ponta dos teus dedos inventa tocar
uma música na ponta dos meus dedos, eu fico
estática e atenta ao movimento de todos os [teus]
sentidos que, seguramente, quero perpetuar

chegas e dizes: "fecha os olhos e respira-me. eu vim
até ti com o consentimento do universo". "por isso
recebe-me com o silêncio da tua eternidade"

sabes, tu que não existes,
na hora em que chegas,
o céu abre-se


helena isabel

Led Zeppelin - Stairway to Heaven

Ensaio


No princípio não existia a vertigem. Subíamos das planícies até à torre da montanha mais alta da Terra. Daí, lançava-nos para as estrelas. Em bicos de pés, começávamos por levitar ligeiramente. Quando sentíamos o corpo leve como o algodão doce, abríamos os braços e iniciávamos a viagem ao irracional. Tínhamos os olhos presos nos olhos do outro e sorríamos da profundeza de nós para o vazio. Depois, cresciam-nos asas e rasgávamos o céu, até desaparecermos da vista dos homens e dos pássaros.

Para lá do azul, escutava-se Tim Buckley, Peter Hammill, John Cale e "In a Manner of Speaking". A música vinha de dentro de ti e abandonava o teu peito em espiral. Percorria um caminho sem tempo até ao meu peito e preenchia-o de pontos de luz, da mesma forma que o relógio justifica o dia. Nessa precisão, largávamos a pele, a carne e os ossos e caminhávamos um para o outro: eu luz, tu luz.

Quando, por fim, nos reduzíamos a uma única linha, nasciam de nós outras estrelas, que iniciavam um longo percurso até ao confins do universo. Ainda permanecíamos algum tempo entre a Terra e o vazio, confundidos com as estrelas mais velhas, a preencher a luz de matéria. Depois, regressávamos aos braços, às pernas e à planície. À nossa espera, estavam apenas as flores, as abelhas, e as crianças. O resto da humanidade dormia ou contava o tempo e o dinheiro.


helena isabel