bem vindo ao espaço sideral! aqui não existe tempo. aqui não existe espaço. encontramo-nos no vazio

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ensaio


No princípio não existia a vertigem. Subíamos das planícies até à torre da montanha mais alta da Terra. Daí, lançava-nos para as estrelas. Em bicos de pés, começávamos por levitar ligeiramente. Quando sentíamos o corpo leve como o algodão doce, abríamos os braços e iniciávamos a viagem ao irracional. Tínhamos os olhos presos nos olhos do outro e sorríamos da profundeza de nós para o vazio. Depois, cresciam-nos asas e rasgávamos o céu, até desaparecermos da vista dos homens e dos pássaros.

Para lá do azul, escutava-se Tim Buckley, Peter Hammill, John Cale e "In a Manner of Speaking". A música vinha de dentro de ti e abandonava o teu peito em espiral. Percorria um caminho sem tempo até ao meu peito e preenchia-o de pontos de luz, da mesma forma que o relógio justifica o dia. Nessa precisão, largávamos a pele, a carne e os ossos e caminhávamos um para o outro: eu luz, tu luz.

Quando, por fim, nos reduzíamos a uma única linha, nasciam de nós outras estrelas, que iniciavam um longo percurso até ao confins do universo. Ainda permanecíamos algum tempo entre a Terra e o vazio, confundidos com as estrelas mais velhas, a preencher a luz de matéria. Depois, regressávamos aos braços, às pernas e à planície. À nossa espera, estavam apenas as flores, as abelhas, e as crianças. O resto da humanidade dormia ou contava o tempo e o dinheiro.


helena isabel

Sem comentários:

Enviar um comentário