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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Esta sombra não é minha




Começo por dizer: "esta sombra não é minha!" 

As águas agitam-se, revoltam-se, elevam-se 
acima das minhas montanhas; trazem à superfície 
fragmentos arcaicos, obsoletos: de remos exaustos,
de barcos que nunca chegaram; de outras lutas, 
tantas e tão remotas... 
E eu volto a dizer: "esta sombra não é minha!" 
Tudo emerge esquivo, obstinado, opaco, arrojado.

Volto as costas aos espelhos, evito-os, 
acendo uma luz ilusória.
"esta sombra não é minha!".

Mas os caminhos estão, inevitavelmente, ladeados de espelhos. 
E agora eu percorro-os, sem medo de contemplar as sombras e
reconhecer nelas a minha própria sombra.
A montanha desce ao nível das águas, mergulha nelas e fica em paz.


* helena isabel

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